O que é infecção urinária?

Chamamos de infecção urinária ou infecção do trato urinário (ITU) qualquer infecção que ocorra em alguma das 4 principais estruturas do trato urinário: uretra, bexiga, ureter e rins.

Existem três tipos de infecção urinária:

  • Cistite: infecção da bexiga.
  • Pielonefrite: infecção de um ou de ambos os rins.
  • Uretrite: infecção da uretra.

De forma mais técnica, podemos definir a infecção urinária como uma resposta inflamatória do urotélio, tecido que recobre todo interior do trato urinário, à invasão bacteriana, geralmente associada à bacteriúria (bactérias na urina) e à piúria (pus na urina) (1).

Nota: alguns autores consideram a prostatite bacteriana uma infecção urinária (2). No entanto, apesar das semelhanças nos sintomas e no perfil de bactérias que causam as infecções, como a próstata não é propriamente um órgão do sistema urinário, a maioria dos autores classifica a prostatite como uma infecção à parte.

Este artigo é rápido resumo das infecções urinárias. Para se aprofundar em cada um dos tópicos aqui abordados, siga os links que serão fornecidos ao longo do texto.

Anatomia do sistema urinário

O sistema urinário é responsável pela remoção de resíduos e excesso de líquido do corpo. Ele é composto por dois rins, dois ureteres, uma bexiga e uma uretra, cada um desempenhando um papel único no processo de produção e eliminação de urina.

Os rins são os órgãos mais importantes do sistema urinário. Eles estão localizados na parte posterior do abdômen, mais próximos das costas. Os rins medem cerca de 10 a 13 cm e seus ápices encontram-se na altura da 10ª a 12ª costelas torácicas.

O rim direito costuma ser discretamente menor e está situado um pouco abaixo do rim esquerdo. Os rins podem se movimentar levemente para baixo ou para cima consoante a respiração do indivíduo.

Anatomia urinária

De cada um dos rins surgem os ureteres, que são tubos que transportam a urina dos rins para a bexiga. Rins e ureteres formam o trato urinário superior.

A bexiga é um órgão muscular e elástico que serve como reservatório de urina. Quando está cheia, envia um sinal ao cérebro indicando a necessidade de urinar. Durante a micção, a bexiga se contrai e a urina é expelida através da uretra, que é o canal que conduz a urina para fora do corpo. Bexiga e uretra formam o trato urinário inferior.

Como surge a infecção urinária

Cistite e pielonefrite

O trato urinário normalmente é estéril, ou seja, não apresenta germes no seu interior. A cistite surge quando há invasão da mucosa da bexiga, na maioria das vezes por bactérias naturais do trato intestinal, como, por exemplo, Escherichia coli (3).

Já a pielonefrite surge quando as bactérias que estavam na bexiga conseguem subir pelos ureteres e alcançam um os ambos os rins.

Essas bactérias intestinais que costumam provocar infecção urinária são chamadas de bactérias uropatogênicas.

As bactérias uropatogênicas podem colonizar a região ao redor da saída da uretra, principalmente nas mulheres, facilitando sua migração até a bexiga.

As estirpes de bactéria E.coli que mais causam infecção urinária são aquelas que apresentam proteínas e polissacarídeos na sua superfície que facilitam sua adesão ao urotélio. Essas características facilitam a colonização e a infecção do trato urinário (4).

Além da virulência individual de cada bactérias, fatores relacionados ao sistema imunológico do paciente também desempenham papel crucial no surgimento da infecção urinária. Algumas mulheres apresentam características genéticas que facilitam a adesão das bactérias uropatogênicas nos seus tratos urinários, o que explica a infecção urinária de repetição em algumas pessoas.

Outros fatores também aumentam o risco de infecção urinária, como malformações do sistema urinário, imunossupressão, uso de cateter vesical (tubo que os médicos colocam na uretra para facilitar o escoamento de urina da bexiga), refluxo urinário, etc.

Portanto, a infecção urinária ocorre sempre que a capacidade de infecção da bactéria é maior que a capacidade defensiva do sistema imunológico do paciente. Pacientes com sistema imunológico forte só são vencidos quando a bactéria apresenta traços específicos que facilitam sua aderência à mucosa do sistema urinário.

Por outro lado, os pacientes com sistema imunológico comprometido, com predisposição genética, defeitos na anatomia urinária podem apresentar infecção por bactérias com fatores de virulência mínimos.

Uretrite

A uretrite é habitualmente provocada por uma infecção sexualmente transmissível, como gonorreia ou clamídia.

Ao contrário da cistite e da pielonefrite, que são mais comuns nas mulheres, a uretrite é uma infecção bem mais frequente nos homens (5).

Eventualmente, a uretrite, ou seja, a inflamação da uretra, pode ser provocada por causas não infecciosas. Alguns exemplos são:

  • Trauma da uretra:
    • Passagem de sonda vesical.
    • Introdução de corpo estranho na uretra.
    • Longos períodos andando de bicicleta.
    • Atrito pelo sexo ou masturbação excessiva.
    • Pressão resultante do uso frequente de roupa apertada.
  • Irritação da uretra:
    • Contato da uretra com substâncias irritantes, como sabonetes, talco ou espermicidas.
    • Menopausa.
  • Idiopática (sem causa determinada).

Sintomas da infecção urinária

Os sintomas da infecção urinária variam consoante o local do trato urinário infectado.

Em resumo os principais sinais e sintomas da infecção urinária são:

Sintomas da cistite (infecção da bexiga)

  • Ardência, sensação de queimação ou dor para urinar;
  • Micção frequente, mas normalmente em pequenas quantidades;
  • Dificuldade para segurar a urina;
  • Vontade de urinar, mesmo com a bexiga vazia;
  • Urina turva, escura, com sangue ou com odor forte;
  • Dor acima do púbis.

Explicamos os sintomas da cistite como mais detalhes no artigo: Sintomas da cistite em mulheres adultas.

Sintomas da uretrite (infecção da uretra)

  • Corrimento purulento pela uretra;
  • Ardência para urinar;
  • Dificuldade para urinar.
  • Sangue no sêmen;
  • Incômodo nos órgãos genitais;
  • Dor durante o sexo;
  • Sangue na urina.

Sintomas da pielonefrite (infecção nos rins)

  • Febre alta;
  • Calafrios;
  • Náuseas e vômitos;
  • Dor lombar ou nos flancos;
  • Prostração;
  • Desorientação (mais comum nos idosos);
  • Sangue na urina.

Diagnóstico

O quadro de cistite é tão comum nas mulheres, que nos casos mais simples, o médico pode fazer o diagnóstico apenas com a história clínica e o exame físico, sem necessidade de exames laboratoriais complementares.

Em mulheres com características clínicas sugestivas, mas não claramente diagnósticas de cistite (como sintomas urinários atípicos), a análise simples de urina, conhecida como EAS ou urina tipo 1, é uma ferramenta diagnóstica útil, pois a ausência de pus no EAS sugere um diagnóstico diferente de cistite (3).

A urocultura deve ser pedida nos casos atípicos, em homens, quando o tratamento inicial não apresenta resultado, nos casos de infecção urinária recorrente ou quando há suspeita de pielonefrite.

Nos pacientes com suspeita de uretrite, além do EAS, amostras do corrimento purulento podem ser obtidas para avaliação de inflamação e pesquisa do agente infeccioso (6).

Tratamento

Tratamento da cistite

Nas pacientes com quadro de cistite simples, nos quais não há suspeita de infecção por bactérias multirresistentes, o tratamento empírico, ou seja, sem orientação pelo antibiograma da urocultura, pode ser feito com um dos seguintes antibióticos:

  • Nitrofurantoína;
  • Trimetoprima-sulfametoxazol;
  • Fosfomicina;
  • Pivmecilinam.

Outras opções aceitáveis são:

  • Amoxicilina-clavulanato;
  • Cefpodoxima;
  • Cefadroxil.

Antibióticos da família das quinolonas, como ciprofloxacino, levofloxacino, ofloxacino e norfloxacino devem ser reservados para os casos mais graves, dado que há um grande leque de opção de antibióticos mais simples e com menos efeitos adversos para serem usados antes.

Tratamento da uretrite

O regime antibiótico mais indicado para as infecções gonocócicas é ceftriaxona intramuscular.

Regimes alternativos incluem:

  • Cefixima
  • Cefpodoxima.
  • Azitromicina.

O regime antibiótico preferido para as infecções não-gonocócicas é doxiciclina 100 mg por via oral duas vezes por dia durante sete dias.

Uma alternativa de tratamento da uretrite não-gonocócica é a azitromicina.

Como a co-infecção com Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis é bastante comum, muito médicos iniciam o tratamento empírico cobrindo esses dois germes, ou seja, como o esquema antibiótico: ceftriaxona intramuscular + doxiciclina oral.

Tratamento da pielonefrite

Em geral, o tratamento da pielonefrite é feito de forma intra-hospitalar com antibióticos intravenosos. Se o paciente tiver boa saúde e ainda estiver com bom estado geral, ele pode receber a primeira dose por via intravenosa e depois completar o resto do tratamento em casa com antibióticos por via oral.

Algumas opções de antibióticos para o tratamento da pielonefrite incluem (7):

  • Ceftriaxona;
  • Piperacilina-tazobactam;
  • Levofloxacina;
  • Ciprofloxacina;
  • Cefepima;
  • Imipenem;
  • Meropenem;

Referências


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